sábado, 26 de fevereiro de 2011

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Quem foi que disse que é errado ser assim? Quem não gosta de histórias? Mentiras ou verdades, histórias. Ficção é minha palavra favorita. Ficção não é realidade, na ficção se é o que se quer ser. Ela sempre quis ser várias coisas diferentes, de fingir vida pra querer um pouco de verdade. Realidade que constrói, não realidade que existe por si só... Eu sou doze personagens diferentes todos os dias, e você, você nem é você de verdade, mesmo que te caia bem, mesmo que eu pudesse me apaixonar, mesmo assim não somos diferentes, somos? Aqui mesmo, onde eu existo completa, eu sou o que não sou, te escrevo pra dizer coisas que eu não sinto, mas que existem dentro de mim, porque você finge junto comigo.
Nós andamos de mãos dadas, todas as dores pra dentro, todos os risos pra fora. Pra enganar o mundo. Pra doer menos. Pra fingir sanidade em um mundo de loucos, ou pra parecer insano quando tudo beira a normalidade. A ficcão é uma escolha, e ela nos veste muito bem.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Se era pra ser se perdeu.
E eu bem quis ser esse tanto de coisas que nós sonhamos, mas meus desejos ficaram reclusos na espera longa. Culpa do mundo, diria ela.
Me acostumei a ser sozinha. Sozinha nas cartas que escrevo, sozinha nos desejos, sozinha da vida, sozinha em cada sonho que sonho.
E a espera estranha por algo sem nome aqui fica. Como eu posso te dizer o que quero se o que eu quero são doces, curvas, cores e trilha sonora demais? Esse chão testemunhou meu desespero nos passos apressados e nas lágrimas perdidas, então não me olhe com essa sua cara inquisidora, meu ritmo foge do teu porque meu desejo de viver sempre intenso não aceita pouco. Pouco me enlouquece, não vê?
Nesse mundo preso dentro de mim, planejo pessoas, diálogos, caminhos, refaço muitas das coisas que já existem aqui perto de mim e me perco numa realidade doce, eu não quero voltar pra ser o que tu e tantos querem.
Meu eu vai caminhando assim sentindo e fazendo poesia, cheio de lágrimas por fora, intensamente feliz por dentro.

sábado, 4 de dezembro de 2010

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Às vezes eu acabo concordando que na minha certidão de nascimento deveria mesmo estar escrito OZ, ou que seja, Terra do Nunca. Onde foram parar todos esses anos?
E eu nem sei se essa síndrome de Peter Pan me incomoda.
Pelo menos foi desse meu jeito atípico que camuflei as esperas mais longas e cruéis da minha vida. Vai ver foi esse o meu mecanismo utilizado para que tudo doesse menos e por menos tempo. Pra manter ainda disposto o coração.
O que de fato perturba é ter ainda a sensibilidade de uma criança. E o pior, junto de uma bagagem e a visão real do que é o mundo hoje.
Eu sofro demais com os animais abandonados e tenho a infeliz consciência de que salvar um só não irá resolver.
Eu simplesmente não me contextualizei na matéria de cegar certos sentimentos que a modernidade tanto exigiu. Pra mim é complicado entender que esmola não se dá e que grande parte da sociedade hoje não tem as mesmas chances que eu. E que palavra ridícula é essa chamada de sociedade!
Talvez eu tenha estagnado no tempo pelo fato de que sendo criança eu era maior que tudo. E eu podia salvar o mundo salavando a asa de um passarinho. E eu podia também dormir em paz dividindo apenas o saco de pipoca com o "menino de rua". E era mais fácil quando eu não entendia o porquê de tanta gente dormir na rua em dias que faziam tanto frio.
Com 22 anos eu acho horrível o meu discernimento. E não sei ainda e o difícil é crescer ou compreeender.
Então eu prefiro ficar assim, a banalizar o que pra mim não é aceitável. E recuso-me a ler em jornais e noticiários casos de homicídios, balas perdidas e miséria como se fossem meros classificados.
É sim a recusa pelos meus dias, pelo meus tempo, dessa minha infeliz história.
Que se danem os meus testes psicológicos! Eu vou estar na casa dos 60 com os mesmos fortes traços de infantilidade, desenhando botões coloridos em blusas e me sentindo insegura diante de um mundo em que sou uma estranha.
E que Deus me permita permanecer estranha em um mundo que se tornou tão estranho.

Fernanda Gava

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Das coisas que eu já não preciso

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Nessas tardes em que o sol arde e força meus olhos a fecharem, formam-se no vermelho escuro das minhas pálpebras o seu ventre, seus membros, você em partes. Nelas por todo me acolho e repouso, me direciono e fico, em abraço, dizendo no silêncio do aconchego, no recolhimento deste infinito entre seus dois braços, frases com pontuações em indefinido, num novembro bem doce.

Deixo aqui, portanto, a frase que tanto repito, e já não sei mais como entono, em torno disso que fantasio:

Quero você.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Das coisas que eu odeio

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Se a vida fosse assim tão fácil, até que me acostumaria com o óbvio, com o tédio, com a falta de alguma coisa que ainda não sei o nome, mas o mundo do jeito que é, não deu.
Odeio essa aceitação de coisas inaceitáveis, odeio hipocrisia, odeio a facilidade com que as pessoas definem e mudam seu caráter, seus valores, sua opinião. Odeio a falta de bom senso, a conivência com tudo que é errado, eu odeio a degradação da educação e valores que a mídia promove, eu odeio a porra da democracia onde todo mundo vota, a porra de uma nação desorientada, onde uma pessoa sem estudo e alcóolatra se torna líder, eu odeio ver a corja se tornar heróis nas bocas que passam por aí. Eu odeio o silêncio dos que tem muito a dizer e odeio meu próprio silêncio. Odeio o ódio a coisas banais. Odeio a falta de escola, odeio a preguiça e a inveja. Não odeio a vaidade e a gula. Odeio o egoísmo, o egocentrismo, odeio a injustiça. Odeio quem só reclama de impostos absurdos e não cobra os serviços públicos. Odeio quem se manifesta pela morte, odeio quem não se manisfesta pela ética. Odeio violência. Odeio quem machuca os outros.
E se tem uma coisa que eu realmente odeio, é pecar também.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

De dias ou anos

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Enquanto eu era concebida, você não gostava de meninas ainda, demorou alguns 6, 8 anos pra você perceber que elas existiam e mais 11 ou 9 pra te achar.
Mas agora nós sabemos. E se agora eu quiser ser feliz? E se eu quiser acordar um dia e querer dividir isso com outro? Terei que ouvir novos cantores, mudar meu gosto musical para não ver você empreguinado nesse meu novo hipotético parceiro!
Vou ter que explicar coisas que você entende naturalmente.
Vou passear pelo shopping esbarrando em outras pessoas que amarrotam meu vestido e não trocariam mais de 20 palavras dignas de um eu e você.
Seríamos "nós" a única chance de não ser feliz sozinho?
Não ligue pra o que eu digo e muito menos ligue pra mim. Não decore o meu número. Mas não vai pra essa porra de guerra, para de fazer guerra. Porra, quem vai cuidar de mim? Não é de outra que você precisa cuidar... Ou dê a deixa pra te inventar um outro nome que não te traduza mais.

terça-feira, 29 de junho de 2010

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Quando me faltaram enredos pra um novo começo surge você, e eu sei a razão: duzentos e sessenta e quatro meses, descontando-se a gestação, você me apareceu no meio de abril, sem nenhum cabalismo nos números da data ou poesia nas palavras, como trivial ou acostumado a aparecer atrasado. Dia de sábado, com pretensões diferentes... Para desde então, me fazer estranha.
Com o aumento da nossa estima, providenciei também uma mudança na nossa baixa estimativa. Nesse tempo, você tomou cinco por cento de mim. O que é pouco, evidentemente, mas por motivos que eu ainda desconheço. Mas nada que não exponenciássemos a melhores nove vírgula um na última noite.
Antes do final do ano, atingiríamos a metade de mim, e o quão antes pudéssemos, você seria tanto, que por direito, portanto, seria o amor da minha vida.
Queria eu ter escrito isso em mais-que-perfeito, ao invés da imperfeição do que agora significa estes imprecisos números que você representa.

domingo, 16 de maio de 2010

How my girl makes me feel

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Eu cansei de ouvir esses nossos amigos com suas frases na medida que não passam de três centímetros que nada pode nos satisfazer, cansei da sua mãe que emite sons que fazem meus sentidos entrarem em pânico, cansei da porra do teu teu jeito que me deixa sem jeito e sem ter nada pra dizer.
Eu queria que você fosse uma atriz hollywoodiana, pra gente ter fama, glamour e riqueza. Assim eu cagava pra sua mãe, pra você, pra essas pessoas na rua, pros nossos amigos, pro álcool, pras palavras, pro cheiro mórbido que exala de tudo que te rodeia. Eu vejo os holofotes em cima de você, enquanto você diz pra todo mundo quanto amor você tem guardado e se surpreende as 12 vezes ao dia com meu jeito de ser. Eu escuto sua voz agora mesmo, dói tanto que me sinto com ouvidos de cachorros desesperados e você apitando com toda a sua força, fazendo esse som filho da puta que só você faz.
Então, larga mão desse negócio de different outlook, porque eu nunca vou mudar, ou você me aceita como eu sou, ou a gente aprende a dizer não.

domingo, 25 de abril de 2010

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É um riso que preso em mim, sabe da necessidade de outros dentes para se completar alegria, ou são minhas mãos frias nas intermitentes chuvas às duas da tarde, que denunciam a carência e a fome de companhia. Mas não, não adianta eu fechar os olhos, e imaginar alguém a quem chamo de você pelas escadas do prédio, pelos corredores da casa, por volta de mim. Não adianta ser você, alguém, quem habita os meus pensamentos se ninguém está.

Ah, se pudesse certamente concretizaria em estar o seu não-ser nos entraleces das minhas pernas, no falecer da respiração dos meus pulmões e no passeio das artérias, pois já é minha alma o seu estado de graça. E a minha vida um dilema antigo no qual ser e não estar é minha grande questão...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pra quem se foi

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"- Não vai..." era o que eu queria dizer, mas eu não podia. Não podia porque você era dispensável, lindo e dispensável. Inteligente, mas dispensável. Engraçado, me desligava do mundo, inteiro, mas totalmente dispensável.
Deve haver um momento que eu vou cruzar com você e vou te dizer exatamente isso: dessa vez, pelo menos dessa vez, não vai. Mas não pude, me enrolei na verdade, que é mais dispensável que você.
E por isso que não há muito tempo atrás me senti úmida, porque o mar de você que existe dentro de mim te queria. Te queria exatamente como há quatro anos atrás e eu achei que tivesse morrido, te queria exatamente como há dois anos atrás e eu achei que tivesse morrido, mas viveu, porque as ondas de você demoram pra chegar e vem desmontando todas as barreiras que eu já criei pra ti, mas você só passa e se vai.
E mesmo te querendo assim, não me incomoda nenhum pouco estar longe de você e não te ter na minha cama, porque você me ensinou que é totalmente dispensável.
As ligações que você fazia hora ou outra, me deixavam feliz, mas eram totalmente dispensáveis. Os seus pedidos, instigantes, mas totalmente dispensáveis. As suas vontades, totalmente dispensáveis.
E mesmo assim, eu escrevi esse texto justamente pra isso: não vai. Não enquanto eu quero que você seja assim, indispensável.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Nosso circo

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Ontem eu comecei a ler um livro, se chama 'The Prodigal Daughter'. Eu já estava lendo outro livro e se eu pudesse eu te explicava mais ou menos como é estranho pra mim começar a ler um livro quando eu já estou lendo outro. O fato é que os dois livros são bons, um é de fantasia, que é meu estilo preferido, o outro é um romance sobre poloneses, uma menina diferente e a presidência dos Estados Unidos. Eu gostei, mas não consegui ler, porque aconteceu que eu fiquei esperando... E a espera me prendeu bem aqui onde eu estou agora. Aí eu passei o dia olhando pras coisas e imaginando como eu poderia preencher esses horários que parecem tão vazios enquanto eu espero pra ver se você chega ou não com os pedaços que completam esse quebra-cabeça. Eu comecei o dia brincando com coisas que te surpreenderiam se me conhecesse o suficiente pra entender que aquele ali não era meu lugar, e se não bastasse, fiz o almoço hoje. Aí deitei no sofá, rodei por milhões de canais e decidi que ia ver um programa que eu já gostei um dia, mas não gostava mais, porque outra coisa que me prendesse de verdade era só a espera, e eu sabia disso. Eu não queria. Resolvi os problemas do cabo da minha câmera e até dividi minha atenção com meia dúzia de pessoas com as quais eu sabia que eu perdia tempo, porque abrir espaço pra se sentir sozinha foi uma das coisas que eu percebi que precisava mesmo ser tola pra fazer. Aí quando veio ás cinco, seis horas da tarde decidi que era o momento, eu tinha que me decidir. Ou eu ia me entupir de sentimentos efusivos em algum lugar, ou eu esperaria... E aí eu te vi ali. Foi nesse momento mais ou menos que eu soube que não tinham peças pra você trazer, a gente já tinha montado. E é até legal, acho que forma a figura de um circo. Nós dois estamos ali, lindos, nos enroscando e nos tocando no alto por cordas amarradas por todos os lados, mas logo nos perdemos no chão no meio de todos os acrobatas que tiram o brilho de nós dois por nos tornarmos só mais dois coadjuvantes num show que é bonito e tem que ser assim. Mas não me entenda mal, meus olhares dispersos, minha espera... Nada mais é do que alguém que não sabe encher o corpo de uma sensação-sem-nome e ter que esvaziar logo depois.
E quando acaba nossa peça e você vai embora sem olhar pra trás, eu tenho um pouco de pena por você não acreditar em coisas que não estão nas estatísticas, ou em coisas do coração, ou das verdades que existem nessas 482 palavras que você acabou de ler... Mas eu sei que você entende, porque essa é a única certeza que eu encontro em 'todos os você' que eu já conheci.
Então eu fiquei esperando, esperando porque eu precisava ouvir você dizer que eu não precisava ter medo, que todo aquele nosso passado ainda existe e todo aquele silêncio não quebrou o que existe entre nós dois. Tô aqui esperando, lendo e relendo, porque eu tinha esquecido quanto era bom quando eu desligo o mundo e resta só eu e você.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Tanta gente nesse mundo é enganação, pare pra pensar, de verdade: quem é que é alguma porra realmente? O mundo é dividido entre os que fazem encenação, que dá aí uns bons oitenta e cinco por cento (procure por aí, as pessoas em festa como se cada movimento fosse um clique de foto, o jeito de sentar milimetricamente calculado para nada querer dizer, procure, tantas poses com a bebida na mão e o cigarro na outra, procure por aí os olhares misteriosos, se dando uma importância transcendental com o charme de não aparentar nenhuma, os saltos, os jogos de tortura mental, ligo na terça pra dar tempo dela sentir falta na segunda, sair por cima é a única saída, procure, são tantos os tipos, eruditos preenchidos do sentir externo, felizes de morrer, tristes de matar, artistas papagaios, piadistas sem humor próprio, “autênticos” em série, tudo fruto de ensaio, tudo fruto de frase pronta ou sensação copiada) e os que simplesmente desistiram da vida toda (os que vagam semi mortos, não se importam mais com machucados, cartas, barulhos de chuva e músculos, não se preocupam com o que vão dizer ou pensar ou causar ou carregar, foda-se, que venha a morte mas antes se der pra gozar só mais uma vez, só mais uma vez, de barrigada ou caridade, é o princípio dos alcoólicos anônimos só que pra parar de morrer: só mais um dia vivendo. Os que não vivem quase enganam que são de verdade, com seus panos e movimentos e bens igualmente abandonados, mas ser de verdade sem “estar” não vale muito, pense bem.).
O mundo é dividido entre os que sentem o que gostariam (e não o que sentem) e os que não sentem mais e ufa, melhor assim. E no meio dessa merda toda, de vez em quando, aparece alguém de verdade. E apareceu, o cara dos desenhos, o cara dos desenhos. O cara dos uivos e pulos e rabiscos e jeito de olhar que dá vontade de uivar e pular e rabiscar. E eu senti bater no fundo, um murro, um tapa na cara no estômago. Esse cara tá aqui. Temos aí um ser humano em plena atividade de estar vivo e ser ele próprio. Essa espécie em extinção chamada pessoa, ou gente, ou cara. O cara dos desenhos.
Escolhi a tela do demônio do bem. Se o mundo fosse trilogia francesa ou pornochanchada brasileira, ele viria entregar o quadro de jardineira jeans e faríamos amor até essa minha cama vagabunda expulsar os gaveteiros que mamãe desenhou pensando na praticidade de uma casa pequena. Mas como a vida é chata, vou me contentar em dormir abraçada com o seu demônio do bem, sonhando com o dia que você vai olhar de novo tão profundamente pra mim que até ter pele me soou um desacato.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Até que gosto de você

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Até que gosto de você e acho interessante. Penso até que te acho mais interessante do que gosto de você, mas não entendo esse teu jeito de ser me impedindo de estar. Estou bem, não precisa se preocupar, eu não estou feliz, é verdade, mas não estou triste também. Desculpa o away, eu não queria magoar você.
De todas as formas que encontro de me animar, eu escolho o triângulo. E de todos os modos, prefiro o imperativo. Só não entendo porque ganho um fã a cada dia do ano, e perco um amigo ao mesmo tempo. Queria que o azar não estivesse comigo... Sabe, não sou a pessoa exata para te dar conselhos, mas diz, quanto te custa?
A fórmula do seu sucesso não me interessa. Me diz, quem é você em quarenta e cinco palavras. Isso é o que quero para você perceber que entre todas as coisas, você é a mais estranha e esquisita. Que o seu tipo, não faz meu estilo, e seu estilo, não faz o meu tipo. E por ser tão diferente, é que te visito, mesmo sem te entender.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Irreal

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... quando eu te vejo. E aí eu ligo pra todas as minhas amigas e elas já sabem, pelo meu tom de voz. Eu estou feliz por ele se emprestar pra me fazer sentir por um ou dois dias que é paixão que nasce em mim de novo.
E é que eu gosto da sua cor meio amarelada e dos óculos, acho simpático o seu esforço de ser um homem sarado, já que não vejo muito sucesso, mas não tem nada mais bonito do que suas costas finas.
E aí você se joga elegantemente na cama, com uma cueca feia com cor de asfalto e eu babo como se você fosse o melhor homem do mundo, e inatingível.
E eu que fui acordar justamente do teu lado, rogando pra quem fosse pra eu voltar a ter aquela cara que eu tinha quando você resolveu me levar pra tua casa. E você se duvidar nem com bafo acordou.
Fico imaginando que você é um daqueles caras que podem me contar vários segredos do mundo, mas você fica quieto, com preguiça, olhando da forma mais bonita que já olharam pra mim e vai embora.
E eu quase voltei e implorei pra me carregar junto pra qualquer coisa que você tivesse que fazer... Mas não vou, porque eu não tenho coragem de você.
Duas horas depois eu fui almoçar com um sorriso bobo e quando a moça me perguntou o que eu queria comer, eu disse seu nome. E eu fiquei com vergonha e até quis dar uma explicação pra ela, não gosto de parecer louca, iria dizer que eu estava apaixonada por você hoje porque você é feliz, feliz como eu jamais serei. E as pessoas te adoram, e você gosta de coisas tão simples, e eu queria ficar achando que essa vida é um barato mesmo só porque hoje tinha macarrão com queijo no almoço.
E eu sei que se a gente um dia casasse, nossa casa ia ser bonita e feliz, com leite ninho no armário, amaciantes Fofo, pão fresquinho da padaria com manteiga derretendo em cima, igual casa feliz de propaganda. E volta e meia eu ia enlouquecer por ser tão feliz e ia me enfiar em alguma tristeza, mas aí eu imagino que você vai me levar passear numa tarde de outono, com folhas laranjas e vermelhas caindo no chão como nos filmes, e vai me dizer que viver é lindo, e eu vou acreditar. E eu não vou ter problemas em ser eu mesma com você, então as coisas não podem dar errado ou acabar, e aí então eu poderia finalmente pesar teu corpo sobre o meu.
Mas isso é só o que eu penso, enquanto você esquece. Daqui uns dias passa...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Bobur

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Só você pra me salvar da rebeldia. Hoje eu queria voltar no tempo, entrar por aquela porta sozinha e te salvar, nem que fosse só um pouquinho, porque ninguém sabe da dor que eu sinto de ter te deixado ir embora doendo mais do que quando veio... Já faz tanto tempo, mas eu me lembro das coisas doces, das palavras bonitas. Eu lembro do teu anseio por um pedaço de mim que eu não podia dar, e acredite, eu sinto muito. Eu sinto saudade das tuas ligações compridas no meio da noite e de todas as conversas que eu só podia ter com você... Eu leio todo aquele livro tantas vezes e eu me questiono por que me dar tantas coisas que eu nunca pude te dar. E me consome, porque eu não pude te dar nada além de feridas que demoram a cicatrizar, e não digo isso porque o amor machuca, porque como você citou naquela carta de resiliência, "El amor é simple e a las cosas simples las devora el tiempo", é por naquele momento ter dito e feito coisas que a gente não faz com quem gosta. E mesmo depois de tantos anos, eu ainda te tenho na memória, você me tornou uma pessoa melhor, e hoje, que eu venho te dizer obrigada, porque só pra você que eu ainda sinto vontade de dizer tantas coisas, que você vai dar sentido. Quando eu te conheci, eu descobri que quando eu falo com outros, persiste ainda um enorme silêncio dentro de mim.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mal vindo

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Não tenho idéias brilhantes pra um novo começo, pensei que talvez você pudesse me ajudar, me conta um pedaço da tua vida ou dois. Já passou do meio dia, eu desperdicei 12 horas, o que eu faço com as próximas 12? Não faz tempo que eu vi você deixando um bilhetinho, escrito que tinha planos. Que planos são esses? Eu tô tão cansada, se ao menos eu pudesse dormir... Dá uma passada aqui, eu estou sempre aqui, vem me ver, mata uma horinha do meu dia? Um almoço, um café, me conta até aquela história chata do seu amigo que você adora contar. Eu sei do que você gosta, vem ouvir que 'springtime can kill you' until you get sleepy. Quem sabe a gente pode dormir junto, essa coisa de calor humano e proteção me faz perder o medo que eu sinto das coisas perigosas que podem aparecer a noite... Essas vozes, essas malditas vozes! Você entende o que eu quero dizer? Elas não me dizem nada. Pelo menos me digam alguma coisa, 4, 5 horas da manhã não é hora de não-suicida ligar pra CVV, tô tão amiga da Ana Maria que ela já me chama por um apelido. Eu acho que a Ana Maria pinta o cabelo de um vermelho escuro, eu não confio em pessoas de cabelo vermelho escuro, mas as vozes ficam me falando que não é verdade, e eu acredito. Falando nisso, você se lembra que eu não acreditava? Essa vida toda me esvaziou, tô até aceitando o que essas vozes me falam. Me fala alguma coisa, me fala alguma coisa gostosa pra eu acreditar? Não sei bem como pode ser, diga que algodão doce não engorda, que pintar as unhas de verde é chique, que tudo bem se eu começar a me drogar ou beber pra eu esquecer que tem 24 horas no mesmo dia. Eu esqueci de pelo menos 14 minutos até aqui escrevendo pra você, porque eu tenho dessa coisa de apagar e escrever de novo, não uma coisa nova, mas a mesma coisa, porque sei lá o que acontece com meus dedos que ás vezes escrevem o errado sem escrever. Você se lembra daquele dia que você me contou o que fazia pra se sentir melhor? Me conta de novo, porque hoje até quero ouvir teu egocentrismo dominar minha atenção. Hoje eu vou viajar, não sei que horas, não sei como vai ser, e isso consome algumas horas. Pelo menos eu sei como vão ser algumas horas, dessas próximas 12 horas. Eu não queria te contar essa parte, me boicotei, eu queria insistir até você dizer que viria, mas não pense! Não pense porque pensar vai fazer você pensar que talvez eu gosto de você, mas eu sinto um pouco de nojo. Você tem um cheiro esquisito, tem muitas espinhas. Eu não gosto de pessoas em processo de crescimento, quando isso vai parar? Eu to na onda de pessoas que só se conformam que os peitos e o pinto não vão crescer mais. Os meus não vão crescer mais, então acho que eu não quero ficar me preocupando se meus peitos vão ser proporcionais ao seu pinto. Não querendo fazer nenhuma lógica dentro disso, tenho pai italiano, mãe austríaca, não tenho talento pra espanhola... Mas até que seria uma boa pras próximas 12 horas. Não, não com você... Nem com ninguém, afinal de contas ninguém se conforma com o tamanho do pinto ou do peito, e eu não quero ter algum tipo de relacionamento. Mas se você quiser ainda vir aqui, vem aqui, vem aqui pra matar pelo menos uma horinha, já disse. Mas se não quiser não vem também, fica aí bonitinho, que eu fico aqui, matando minhas 12 horas pensando que eu tive um tanto de sorte no dia. Ver você tá longe de ser uma atividade gostosa, eu só quero te ver porque não tem ninguém pra ver, então como eu sei que você é vingativo, daqui 15 minutos eu abro lá o portão da frente. Se eu não estiver aqui, senta no sofá, liga a TV, que minha mãe precisa que eu vá no mercado.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Hehehe

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A ideia de hoje foi te pedir um favor. Eu escolheria algum texto que gosto muito e você leria pra mim. Sem oi, sem tchau, sem coisas feitas ou a fazer. Nada de você, nada da sua vida. Nada que constate a sua existência independente. Apenas a sua voz. Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito. Como se meu coração fosse uma dessas caixinhas surpresas e você o boneco de mola pra assustar crianças. Elas se assustam mas riem e abrem de novo e de novo.
Acabei de ver Santiago, o documentário, e tive um acesso de choro daqueles. Ele escreveu sobre toda a aristocracia do mundo e isso arrasou comigo, amor. Arrasou. Ele era o garçom das festas, que você chorava. Uma pessoa que servia feliz a uma beleza triste. E no final, não sei se você viu o filme, mas ele quis contar algo pessoal e apressaram ele, cortaram, o que ele realmente queria dizer não tinha importância. E quase, quase quis te pedir um favor. Mais uma das minhas ideias. Pra você, por alguns minutos, só enquanto eu chorava demais, pra você fazer de conta que abismos não existem. E não existem mesmo, nesses segundos descabidos das horas que não entram no dia. Porque agora, nesse segundo que corri aqui pra te escrever, nesse momento não existe essa coisa de dia e de dois meses exatos. Existe só que vamos todos morrer então pra que mesmo o orgulho de sair ileso mais um dia. Mais um dia ileso. Como se não fosse cheios de feridas que raspamos com as costas das mãos as nossas roupas de guerra e dormimos em paz.
Outro dia tive uma ideia. A cada doze dias, perto das onze horas da noite, eu chegaria sem dizer nada e você também não poderia dizer nada. E então a gente só ficaria se lambendo um pouco. E aqui não tem nada de erótico não, é bonito isso que eu quero dizer. E depois acabava mesmo. E a cada doze dias de novo. E isso seria um contrato já que meu doentinho daqui da cabeça quer tanto. Pro resto da vida. E tudo bem pra você, vai. Sim, seria um contrato, mas olha que maravilha os outros doze dias sem nada. E seria só por uma hora. Então, tudo bem. Acho que você assinaria.
Hoje eu estava no estacionamento do aeroporto e fiquei seguindo as plaquinhas de saída e vi que é isso que faço melhor do que ninguém. São tantas as coisas que eu queria te falar e contar. E eu sigo fantasiando que você entende tudo e melhor que todo mundo. E isso acaba comigo mas, ao mesmo tempo, me tira um pouco da chatice burra e apática de sempre. E então, me vem a ideia de realmente te contar as coisas. E por isso escrevo. Porque se você entra aqui pra ler é você que, com todo o meu amor que você nem imagina, consegue sentir como sendo seu. E então é mesmo essa coisa maluca de eu me livrar do que eu nem sei se sinto pra você, sem nem saber se sente, sentir o que já estava aí esse tempo todo. A troca do absurdo. Nisso trocamos. O absurdo.
Hoje eu perguntei a um amigo. Você era feliz com ela? E ele disse: eu era muito feliz com ela. E muito triste. Sem ela eu não sou nem uma coisa e nem outra. Eu sorri e disse pra ele: eu prefiro a vida assim. Ele disse: prefere mesmo? Eu disse, comendo um pão de queijo: não, não prefiro, mas pelo menos, assim, eu consigo estar aqui com você pesando mais de quarenta quilos.
São, sei lá, duas e pouco da manhã. Passo boa parte de tudo sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu. Mas o tempo todo, ainda, converso e te mostro tudo, o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou sozinha. Não porque era menos sozinha com você. Apenas porque apenas.
Lê pra mim um texto. Com a luz apagada. Quando alguém liga eu fico cheia dos risinhos idiotas porque tiro sarro de quem tenta falar algo e não sai como sairia se fosse você. O maior elogio que eu poderia fazer a uma pessoa era dizer assim: gosto de você além da minha imaginação, não porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, você é ainda melhor que o sonho. Você é além da minha capacidade em te imaginar. E eu jamais te diria isso. Não posso te fazer esse elogio. Mas olha, ainda assim, olha eu aqui de novo. Porque você não é melhor que a minha imaginação, você não é melhor que a minha esperança, você, pra falar a verdade, é bem ruinzinho.
Mas é isso. Um filme com o maluco do fraque e das castanholas me emociona e pronto. O boneco salta da caixinha e espanca meu peito com cabeçadas duras e olhar macabro. A hora que não entra no dia. E eu mais uma vez preferindo não sair ilesa pra me sentir menos machucada.
Você pode, a cada doze dias, ler um texto, a língua, brincar do não abismo, qualquer coisa, só ler, continuar assim, só ler, não me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer você. Eu não soube o que fazer com você, mas sei o que fazer com o não você. Isso eu sei fazer e faço bem. Lembrar que era terrível e incrível. Terrível, meu amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrível.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Silêncio

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Quando eu tinha os meus 15 anos, eu detestava o silêncio, pra mim era incômodo calar meus instintos. Os anos se passaram, as pessoas calaram até os ouvidos e agora noto que acabei me tornando uma daquelas pessoas silenciosas.
Ás vezes eu procuro nos meus cadernos velhos sobras de tudo que eu queria ter dito, vejo páginas arrancadas e me lembro das coisas que eu disse e ninguém ouviu, e a medida que eu fui trocando, vejo que o silêncio foi ficando mais intenso, e as páginas em branco passaram a ser mais recorrentes.
O silêncio, o maldito silêncio que eu odiava nas pessoas, que me fazia achar que elas eram vazias porque não gritavam pro mundo a porra da insatisfação que elas sentiam, que me fazia achar que elas eram frias porque quem em sã consciência iria ver o amor fugindo e não lutaria, essas pessoas que eram silenciosas demais, esse silêncio que acabou tomando conta de mim e me faz esconder das pessoas o tamanho de tudo que tem dentro de mim, e eu tenho vontade de falar tanta coisa, mas é assim que é, dolorido e solitário ser gente.

domingo, 16 de agosto de 2009

Outra vez

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Eu não me surpreendo mais quando, sem nem notar, passo uma rasteira no que me causa alguma dor. Foram anos que me deixaram forte os que passaram, e eu nem me reconheço mais quando me pego chorando por uma causa que é só minha.
Foram esses anos que me mostraram que eu não era dona da culpa. A minha vontade de buscar mais e mais felicidade nunca foi pequena, então nunca coloquei limites nos meus pés pra ir atrás dela... Eu já nasci acompanhada da lição de vida, ela me deu muita porrada e me disse que não era pra eu me acostumar com o que é pouco, então eu cavo na procura de mais, pra poder me fazer inteira. Meu único medo é ter medo de correr o risco, de perder minha coragem, de me sentar e aceitar que não deu certo. Eu nunca tive vergonha de sofrer, tenho vergonha é de aceitar qualquer coisa, o pequeno, de esquecer de cuidar da mulher que cresce dentro de mim.
Então ontem eu estava quebrada, hoje eu junto os pedaços e amanhã eu coloco a mochila nas costas mais uma vez.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Absurdo

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Você queria me comprar porque eu parecia um sonho, porque eu era teu filé, e como já era tarde, disse que tudo bem. Você me colocou na mesa pra ceia e micumia. Eu te falava “para que dói, mozinho” e você me dizia “não fódi”. E eu virando suquinho dentro de você, brincando de tobogã no teu esôfago, afogando a batata no estômago, e você gritava “ai que delíííícia de mulher”. Aí você me acomodou na sua cama, me deixou quentinha, me deitou de lado e dizia que nunca teve um gostinho melhor... No dia seguinte você correu pro banheiro me largar e falou “ui pra você”.

E hoje eu to aqui, largada, junto com tantos outros “sonhos”, “filés”, “corações” e “docinhos de côco”, tentando não esquecer que a cadeia alimentar é um ciclo, implorando pra esquecer que pra você eu dei a carne de primeira.

 

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