sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mal vindo

Não tenho idéias brilhantes pra um novo começo, pensei que talvez você pudesse me ajudar, me conta um pedaço da tua vida ou dois. Já passou do meio dia, eu desperdicei 12 horas, o que eu faço com as próximas 12? Não faz tempo que eu vi você deixando um bilhetinho, escrito que tinha planos. Que planos são esses? Eu tô tão cansada, se ao menos eu pudesse dormir... Dá uma passada aqui, eu estou sempre aqui, vem me ver, mata uma horinha do meu dia? Um almoço, um café, me conta até aquela história chata do seu amigo que você adora contar. Eu sei do que você gosta, vem ouvir que 'springtime can kill you' until you get sleepy. Quem sabe a gente pode dormir junto, essa coisa de calor humano e proteção me faz perder o medo que eu sinto das coisas perigosas que podem aparecer a noite... Essas vozes, essas malditas vozes! Você entende o que eu quero dizer? Elas não me dizem nada. Pelo menos me digam alguma coisa, 4, 5 horas da manhã não é hora de não-suicida ligar pra CVV, tô tão amiga da Ana Maria que ela já me chama por um apelido. Eu acho que a Ana Maria pinta o cabelo de um vermelho escuro, eu não confio em pessoas de cabelo vermelho escuro, mas as vozes ficam me falando que não é verdade, e eu acredito. Falando nisso, você se lembra que eu não acreditava? Essa vida toda me esvaziou, tô até aceitando o que essas vozes me falam. Me fala alguma coisa, me fala alguma coisa gostosa pra eu acreditar? Não sei bem como pode ser, diga que algodão doce não engorda, que pintar as unhas de verde é chique, que tudo bem se eu começar a me drogar ou beber pra eu esquecer que tem 24 horas no mesmo dia. Eu esqueci de pelo menos 14 minutos até aqui escrevendo pra você, porque eu tenho dessa coisa de apagar e escrever de novo, não uma coisa nova, mas a mesma coisa, porque sei lá o que acontece com meus dedos que ás vezes escrevem o errado sem escrever. Você se lembra daquele dia que você me contou o que fazia pra se sentir melhor? Me conta de novo, porque hoje até quero ouvir teu egocentrismo dominar minha atenção. Hoje eu vou viajar, não sei que horas, não sei como vai ser, e isso consome algumas horas. Pelo menos eu sei como vão ser algumas horas, dessas próximas 12 horas. Eu não queria te contar essa parte, me boicotei, eu queria insistir até você dizer que viria, mas não pense! Não pense porque pensar vai fazer você pensar que talvez eu gosto de você, mas eu sinto um pouco de nojo. Você tem um cheiro esquisito, tem muitas espinhas. Eu não gosto de pessoas em processo de crescimento, quando isso vai parar? Eu to na onda de pessoas que só se conformam que os peitos e o pinto não vão crescer mais. Os meus não vão crescer mais, então acho que eu não quero ficar me preocupando se meus peitos vão ser proporcionais ao seu pinto. Não querendo fazer nenhuma lógica dentro disso, tenho pai italiano, mãe austríaca, não tenho talento pra espanhola... Mas até que seria uma boa pras próximas 12 horas. Não, não com você... Nem com ninguém, afinal de contas ninguém se conforma com o tamanho do pinto ou do peito, e eu não quero ter algum tipo de relacionamento. Mas se você quiser ainda vir aqui, vem aqui, vem aqui pra matar pelo menos uma horinha, já disse. Mas se não quiser não vem também, fica aí bonitinho, que eu fico aqui, matando minhas 12 horas pensando que eu tive um tanto de sorte no dia. Ver você tá longe de ser uma atividade gostosa, eu só quero te ver porque não tem ninguém pra ver, então como eu sei que você é vingativo, daqui 15 minutos eu abro lá o portão da frente. Se eu não estiver aqui, senta no sofá, liga a TV, que minha mãe precisa que eu vá no mercado.

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